Sábado, cai a noite quente.
Raras estrelas piscam entre nuvens densas, enquanto trovoadas abafadas circundam a cidade.
É verão de águas que surgem repentinas e fortes carregando ladeira abaixo os cheiros de terra, folhas e asfalto.
Ventania rodopiando entre galhos a provocar o bailar frenéticos das árvores.
Fascina, inebria e amedronta antes de esmaecer no ritmo monótono sobre os telhados.
Águas de Verão Damas de Companhia da Terra carrega esta força surpreendente das tempestades de verão.
Abre-se verde, acidulada sob a têmpera do gálbano, suavizado por toques brandos de flores, talvez violetas, jacintos e narcisos.
Tênue, névoa de canela paira sobre o ar no prenúncio da força das águas, que se derramarão sem transferir umidade para a pele, apenas trazendo o aroma inebriante de especiarias enfumaçadas, do coentro envolvido pelo benjoim, incenso, myrra e civeta, resultando na fragrância que mescla ambiente urbano e campestre.
Repentino vislumbre aromático de grande metrópole rescende a bancos de couro de carros novos, invadidos pela brisa que traz o aroma das ruas após a chuva, e gradativamente adquire suavidade de seda.
Delicada, empoeirada, guardada em baús, como preciosas lembranças de outrora, em cujas dobras se escondem íris, almíscar e âmbar.
Adquire coloração doce e quente no rastro das especiarias, das madeiras semi encobertas, respingadas de patchuli e musgo.
Acento sofisticado, cálido e citadino que vem entremeado pelo aroma dos campos, de troncos e raízes.
Sem dúvida merecedor do requinte duma première de gala no Teatro Municipal, talvez descontraída maratona pelos bares restaurantes da Orla Bardot, ou da rua das Pedras, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro.
Família Olfativa: Oriental Seco Amadeirado, 1976
Gênero: Feminino
Perfumista :Ricardo Penafiel Malta
Rastro: Intenso
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Gálbano, alecrim, violeta
- Coração - Coentro, canela, couro, narciso, jacinto, orris
- Base - Cipreste, benjoim styrax, civeta, patchuli, musgo, almíscar, âmbar branco
PS: Algumas notas de Águas de Verão Damas reviveram lembranças do descontinuado Mystere by Rochas, meu parfum signature nos anos 80!
Arte irmã: Asfalto (poesia lusitana - Cristina)
Tenho fome de poema
Sede de poesia
Neste tempo só há um verbo
Que me tira da melancolia
Rosto
Retratado
nume
Silvestres
Nudez do dia
No asfalto
Se perde
Nesta correria
Arte Irmã: Garota de Ipanema de Tom Jobim - Intérpretes: João Gilberto, Astrud Gilberto e Stan jetz
Me encanto lendo tuas narrativas... chego a sentir o cheiro de cada coisa. Perfume, poema e música devem ter nascido juntos. bjus
ResponderExcluirOi Ju. Voltaire disse ..."Todas as artes são irmãs cada uma delas ilumina as outras". Penso exatamente assim,que a criação artística é fruto da mente expressada por todos os sentidos e capacidades do homem. Impossível dissociar uma arte da outra. A própria Natureza é um conjunto poético de cheiros, cores, sons, texturas e linguagens em harmonia.
ResponderExcluirOutro grande pensador (e perfumista), Edmond Roudnitska, disse que devemos descrever os acordes de um perfume exatamente como parecem para nossa experiência pessoal. Pelo menos foi desta forma que interpretei; então procuro caminhar próxima do pensamento destes grandes mestres. Obrigada pela visita e pelas palavras. Vinda de uma artista da perfumaria é um grande elogio. Beijocas de Elisabeth
Olá boa tarde.
ResponderExcluirgostaria de saber se a Companhia da terra fechou, tento entrar em contato, mas sem sucesso.Obrigada.
Oiii . Não tenho nenhuma informação. Pelo que soube ocorreram estragos nas instalações na ocasião dos deslizamentos e alagamentos em Petrópolis. Entretanto não sei se acarretou prejuízos graves e fechamento. Procurarei me informar e postarei aqui.Beijocas de Elisabeth
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/PICompanhiadaTerra
ResponderExcluirInfelizmente o "Aguas de verão damas" está esgotado.