James Albert Michener não é perfumista, entretanto seus romances de ficção mesclada à fatos históricos inebriam e transportam como aromas atemporais.
Ao experimentar a fragrância Hasu No Hana, revivida por Grossmith tive a mesma sensação de encantamento sentida ao descobrir que Sayonara, a bela história de paixão do major americano pela garota Hana-ogi fora uns dos mais de 40 títulos do meu autor preferido, detentor de um Pulitzer Prize for fiction.
Sayonara, o romance, traça a beleza delicada e contida, porém intensa, das mulheres japonesas, retratada na sedutora personagem Hana-ogi que desfilava sua graciosidade nas cerimônias de chá, entre paredes de papel desenhado e treliças de madeira.
Algumas casas de chá e de gueixas eram cenário de exuberantes jardins japoneses, onde imagino o murmúrio de um riacho e o misticismo da estátua de Budha, rodeada pelas folhas de bambú e alvas flores de lótus.
Frente a esta imagem talvez a gueixa apaixonada pedisse silenciosamente, sob o brilho aúreo do luar, melhores augúrios para seu infortúnio, enquanto seu perfume, intenso e doce, refletindo a paixão da alma feminina se espelhasse nas flores sobre a água.
Hasu No Hana ou 蓮の花 significa flor de lótus e um perfume de 1888, fabricado por Grossmith & Song, registrado apenas em 1913, que atravessou séculos para encantar, como uma linda história de amor.
Também representa um fascinante chypre floral que encontra a pele no ardor camuflado de cítricos, submersos por flores doces e resinosas.
Embora o bouquet seja suave em tons cálidos e cremosos percebe-se sob gotas de resinas translúcidas - canforados filetes dourados - o sombrio aroma de cantos úmidos, pedras recobertas por musgos densos, raízes e folhas que gradativamente se aquecem ao sol nascente, revelando madeiras antigas, galhos e troncos secos, empoeirados.
Desfilam flores...ylang ylang, rosas, lírios, revestidas de calorosas e balsâmicas resinas, ládano, traços de civeta e pitadas de pimenta mantendo o calor e suavidade rente a pele, entre a voluptuosa doçura de fava tonka e o aveludado exótico e herbáceo da íris.
Musgo constante confere o inconfundível tom chypre sem desviar da feminilidade, marca impressiva em Hana No Hana.
Almíscar, âmbar, sândalo e cedro equilibram as gotas de musgo arrematando a evolução da fragrância qual enlaçar primoroso de um obi sobre exótico quimono de seda.
Família Olfativa: Chypre Floral, 1913 - 2009
Gênero: Feminino
Perfumista: Roja Dove
Frasco: Baccarat
Rastro: Intenso
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Bergamota, laranja amarga
- Coração - Íris, jasmim, ylang-ylang, rosa, musgo-de-carvalho
- Base - Vetiver, madeira de sândalo, patchuli, madeira de cedro, fava tonka
VÍDEO: Semente da Flor de lótus - Flor-de lótus, flor associada á Budha simboliza elevação espiritual, beleza e pureza.
Imagens: Capa de Sayonara de James A. Michener e frasco de Hasu no Hana - Grossmith London; Frasco Vintage e reedição 2009 de Hasu-no-HAna de Grossmith Nelumbo nucifera de Wikipedia e Flickr
Além de ter despertado em mim, interesse pelo perfume Hasu-no-Hana, o seu post me fez ficar louca para ler o livro "Sayonara"!
ResponderExcluirMais uma vez, parabéns pelos seus posts maravilhosos Beth!
Oi Elen
ResponderExcluirObrigada flor.Hasu no Hana é chypre tradicional e delicioso. O trabalho de adaptação para a disponibilidade de matéria-prima atual foi muito bem feito.
Quanto a James Michener, os livros são fantásticos. Difíceis de achar, mas recomendo muitíssimo Caravanas, A Fonte de Israel, Aliança, Space, Cuba. São romances maravilhosos, épicos que misturam ficção com personagens verdadeiros. Uma aula de história sem que percebamos.
Sayonara fez muito sucesso na década de 50 e virou filme com Marlon Brando. São lindos estes filmes antifos...Beijocas de Elisabeth