Desprovido de artificialidades, rico em nuances que são desvendadas lentamente, a cada novo contato ou experiência, esta fragrância parece uma sofisticada caixa de Pandora, encerrando segredos da natureza.
Na primeira borrifada surpreendeu com saída agreste, temperada, incisiva e herbal que rapidamente transmutou para incensos puros e raros, parecendo fluir direto de tendas orientais.
Durante algumas horas vivi sob o signo exótico das resinas enfumaçadas, lentamente abrindo epaço para o floral pontilhado por tênue mentolado desprendido de ervas finas.
Intrigada, tentando desvendar detalhes desta composição inesperada, aventurei nova porção sobre a pele, generosas gotas a escorrer em rastro perfumado.
Permaneceu o herbal, contudo novas camadas intensificaram perante meu olfato e percebi surpresa o leve e doce frutado acompanhando madeiras temperadas e frescas.
Originais e impressivas, as notas de topo constituem acorde especiado equilibrando com talento as várias folhas e sementes aromáticas, que instigam madeiras da base a emergir, num primeiro momento sobrepujando flores, para finalmente sucumbir à sua intensa doçura.
Tal efeito provavelmente se deve ao raro óleo essencial de black hemlock ou hemlock do Canadá, uma espécie de conífera do gênero Tsuga. Algumas espécies deste grupo de coníferas ou evergreen são tóxicas fornecendo o vêneno cicuta.
Ormonde Woman me parece a mistura de tintas cremosas numa paleta, mesclando tons quentes de páprica, com nuances claros de madeiras, e várias tonalidades de verdes... frescos, intensos e apimentados.
Violetas escuras caem em diminutos pontos sobre a luz sinuosa de cores que desaparecem e retornam, em acordes momentaneamente viçosos, ou claros veios de madeiras, cujo aroma é afiado e seco
A medida que recebem alvura do jasmim, estas cores esmaecem, diluem e surge um tom pastel, bege, impreciso, elegante e sedutor, que acompanha passeio matinal pelos jardins, o chá da tarde ou premiere de teatro.
Madeiras temperadas com cardamomo, coentro, folhas frescas, raízes e sementes constituem o âmago, o espírito deste eau de parfum, contudo flores e âmbar são decisivas para lapidar, unificar e equilibrar os acentos, de forma a ressaltar a elegância de cada nota.
Ao ressonar dos últimos suspiros percebemos a presença de vetiver paralelo as madeiras, principalmente cedro, resgatando a pungência que se delineia nos primeiros instantes.
Encantador e mutante, Ormonde Woman se amolda a quem usa, espelha o momento, o ambiente... e seduz.
Família Olfativa: Floral aromático amadeirado, 2002
Gênero: Feminino
Perfumista: Linda Pilkington
Rastro: Moderado
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Cardamomo, coentro, gramíneas asiáticas (capim - santo)
- Coração - Tsuga ou Hemlock canadense (conífera ), violeta, absoluto de jasmim
- Base - Vetiver, cedro, âmbar, madeira de sãndalo.
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Arte Irmã: Se fosse poesia seria...
SONETO
"Há festas no campo, ânsias que crescem
Sob a cortina verde da ramage,
Enquanto as samambaias estremecem
Aos beijos brandos da sublime aragem!
Uns retalhos de sol sobre a folhagem
Tremeluzindo, das alturas descem
E no fundo azulado da paisagem,
De várias coress um tapete tecem.
Há mensagens de olências nos canteiros!
Chovem pétalas brancas, perfumadas
Da fronde angelical dos jasmineiros ...
E, a manhã como uma águia de marfim,
Desce dos chapadões nas madrugadas
E abre as asas de luz no meu jardim!
De Miguel Jansen Filho - Paraíba 1925/1994
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