Entre fragrâncias doces, leves, rendilhadas em suavidade e delicadeza, ou orvalhadas no frescor matutino, explode o ardor picante da rosa chypre destacando-se como o repicar dos sinos nas manhãs plácidas de domingo, a sacudir do torpor preguiçoso do sono.
Impossível ignorar a flor cujo arauto é o coentro. Sentimos seu calor de imediato, veemente afirmando que não existe brandura ou submissão, embora seja vassalo da soberana feminilidade.
Erva que tempera, substituindo o padrão cítrico dos tradicionais chypres encobrindo a delicadeza empoeirada das rosas, típica dos papéis de carta, como o lacre real sela um pergaminho, escondendo momentâneamente um aroma sutil.
Segue-se surpreendente dueto da aveludada e doce rosa da Bulgária com o odor amadeirado da rosa chá sugerindo equilíbrio entre amor romântico e entrega ardente, pois as notas do coração parecem abrigar mensagens de mulheres impetuosas a procura dos seus amados, através de cartas apaixonadas.
Palavras revelam segredos, sussurros do coração e deslizam sobre o papel antes de serem enviadas para seu destino, dentro de envelopes que também encerram perfumadas pétalas de rosa.
Enquanto percorrem espaços, os recados amorosos desprendem suspiros de doce ramalhete, antevendo o prazer do encontro com o agrume das folhas de patchuli.
Recebidas, encontram a reciprocidade dos sentimentos e se deixam envolver no abraço másculo e ardoroso de madeiras banhadas nas essências de resinas, extratos de folhas, incenso...
Protagonistas de romances intensos, na literatura ou em histórias verdadeiras devem exalar tais perfumes de femininas rosas e madeiras cobertas de musgos, entrelaçados em beleza e sintonia.
Será que este encanto resistiria ao tempo, perduraria em aroma entranhado nas fibras amareladas dos maços de cartas, atados por fitas de cetim?
Gostaria de descobrir uma linda e verdadeira história de amor, nos cantos empoeirados de uma biblioteca, ou no fundo de um baú antigo...de, viajante no tempo, aspirar o perfume das rosas esmaecidas e desfolhadas.
É necessário dizer que as rosas aqui são preciosas? E que provavelmente são culpadas de alguma nostalgia... Comentários lidos colocam esta bela rosa ao lado de Chanel N.19, dos aldeídos de Flora Nappa Valley Boheme, da característica chypre de My Sin, Cabochard, Ma Griffe, Jean Patou 1000 e devo concordar que a avidez com que ganha a pele e o ambiente recorda tais fragrâncias poderosas, enquanto a elegância definida pelo drydown é tipicamente Chanel.
Em alguns momentos na transição entre as notas iniciais e as de coração senti uma das facetas sedutoras de Soir de Lune.
Sillage e fixação sobrepujam em intensidade e longevidade os poucos perfumes Rosine, que experimentei, afoita e descuidadamente num primeiro momento. Talvez outros se equiparem ou superem este contato inicial com a rosa chypre, portanto serei cautelosa na avaliação. Embora encantada.
Família Olfativa: Chypre, 2004
Gênero: Feminino
Designer: Marie Hélène Rogeon
Rastro: Intenso
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Bergamota, coentro
- Coração - Ylang-ylang, jasmim, rosa chá, absoluto de rosa da Búlgaria, absoluto de rosa da Turquia, íris.
- Base - Sândalo, musgo de carvalho, patrchuli, vetiver, benjoim, âmbar, almíscar branco
Imagens: Composiçoes com fragmentos de imagens por Elisabeth C; Amanda Seyfrieds in Lettes to Juliet; Vintage Love Letters/1940; Banners de publicidade Les Parfums de Rosine.
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