Transcorriam os anos 30.
Findava a primavera nos campos da Inglaterra e nos jardins do Castelo de Sissinghurst, em kent, a exuberância de centenas de espécies florais intoxicava o ar, provocando arrebatamentos da imaginação.
Vita Sackville-West, escritora inglesa e proprietária, talvez cultivasse o hábito de caminhar ao entardecer saboreando fragrantes rosas enquanto delineava poemas e personagens de romances como o famoso All Passion Spent, publicado em 1931.
Ainda não existiam as rosas inglesas de David Austin ( 1965), híbridas que descendem das antigas e majestosas rosas gálicas, entretanto a beleza inebriante e diversidade de aromas poderiam fascinar o espírito.
Decorrido o tempo, inspirado nos belos jardins que abrigaram esta hábil artista da palavra, M. Pickthall, em 1984, criou Elizabethan Rose, um poema olfativo cuja musa é a rosa.
Evolui primorosamente qual soneto de rimas delicadas, cada nota floral ou aromática um verso, cada acento uma estrofe.
Percebemos no início acorde licoroso de característica frutada e gustativa, acompanhado pelo frescor mentolado de gerânios, flores que carregam aroma próximo ao das rosas, formando intenso bouquet aldeído.
Aveludada e ligeiramente ácida, a fragrância exalada se aproxima da descrição aromática de algumas variedades de rosas inglesas, tidas como florais cítricas e melífluas, embora nos surpreenda com emanações tépidas e picantes rodopiando pelo ar como o pólen, após breves lufadas de vento.
Contudo, uma rosa é uma rosa e apesar da versatilidade de nuances são flores inconfundíveis, aqui revelando que as várias facetas da sua beleza transcendem cor, forma e classificação, na floração plenamente desabrochada.
O bouquet que nasceu impetuoso adquire elegante suavidade e sofisticada transparência no dueto com camomila, e no frescor sombreado das violetas.
Voluptuosidade cede lugar à sedução feminina e requintada dos acordes que logo serão envolvidos pela doçura do sândalo, aconchegante abraço do âmbar e cristalino almíscar.
Aldeídos e acentos herbais garantem a continuidade de leveza citrina, associada ao floral que continuamente denuncia rosas envolventes e doces como mel, permitindo entrever no frêmito das pétalas, abaixo do empoado âmbar, traços capciosos de ládano e benjoim.
Do princípio ao fim, uma ode à rosa, que se insinua pelo ambiente de forma intensa e persistente, como se estivéssemos num pródigo jardim ao entardecer, quando flores nos brindam com seu hálito apaixonado provocando a dúvida:
- Será a rosa que nos fascina em sedução aromática, ou a flor cativada pelos encantos da humanidade que oferece sua vital essência?
Arte Irmã: Se fosse poesia falaria de rosas...
SONETO DA ROSA - Vínicius de Morais
Mais um ano na estrada percorrida
Vem, como o astro matinal que a adora
Molhar de puras lágrimas de aurora
A morna rosa escura e apetecida
E da flagrante tepidez sonora
No recesso como ávida ferida
Guardar o plasma múltilo da vida
Que a faz materna e plácida, e agora
Rosa geral de sonho e plenitude
Transforma em novas rosas de beleza
Em novas rosas de carnal virtude
Para que o sonho viva da certeza
Para que o tempo da paixão não mude
Para que se una o verbo à natureza
Família Olfativa: Floral, 1984
Gênero: Feminino
Perfumista: M.Pickthall
Frasco: William Penhaligon
Rastro: Intenso
Fixação:Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Aldeídos, gerânio
- Coração - Camomila, violeta, rosa inglesa
- Base - Almíscar, âmbar, madeira de sândalo
Os perfumes e demais produtos Penhaligon's podem ser adquiridos num dos sites oficiais da marca.:
- Japão
- Uk e EU
- USA e CA
SISSINGHURST CASTLE
Vita e o marido Harold adquiriram a propriedade abandonada, e em ruínas, que havia, após o colapso da família Backer, se transformado em prisão, sede do Sindicato de Trabalhadores de Cranbrook e finalmente habitação rural.
Dedicado à restauração, o casal deu continuidade aos projetos, utilizando plantas elaboradas baseadas nos jardins de Gertrude Jekyll - Edwin Lutyens e do jardim Hidcote Manor, projetado por Lawrence Johnston.
A planificação previa salas e espaços independentes, seguindo padrões temáticos, em monocromia ou policromia, criando padrões como o roseiral da sala branca que iniciou o modismo dos jardins brancos.
Foi aberto ao público em 1938, e adquirido pela National Trust for Place of Historic Interest or Natural Beauty em 1967.
MARIA VICTORIA SACKIVILLE-WEST
Filha da aristocracia inglesa, Victoria Mary Sackville-West,nascida em 1892 alcançou popularidade através da premiada atividade literária e do seu amor pela jardinagem e arquitetura.
Manteve com Harold Nicolson, diplomata e também escritor, relação estável e flexível, caracterizada pela liberdade com que ambos conduziam relações paralelas ao relacionamento conjugal.
Em conseqüência ao seu apego para com o estudo das espécies vegetais e planificação de jardins, em 1846 iniciou uma coluna semanal chamada In Your Garden, no jornal The Observer, o que rendeu popularidade ao Jardim do Castelo de Sissinghurst, propriedade adquirida pelo casal em 1930.
Entre poesias e romances se destacam atualmente The Edwardians ( 1930) e All Passion Spent ( 1931).
Marcada na vida pessoal pelo estilo de vida liberal é recordada pelos inúmeros e tumultuados romances bissexuais que tiveram início em relações germinadas na infância e adolescência.
VÍDEO:Sissinghurst Castle Gardens
Posts tão caprichados que além de desejar conhecer o perfume acabo por querer viajar, fotografar, ouvir....blog completíssimo!
ResponderExcluirOi Dâmaris.
ResponderExcluirFico só imaginando as fotos que vc faria...
Você precisa ver algumas que minha filha tem feito em localidades da Europa. Lindas! dá vontade, muita vontade de viajar pelo mundo sem data prá voltar...Ela também ama fotografar.
O cabeçalho do blog fiz com fragmentos de fotos dela , e com uma figura de editorial vintage.
Fazendo resenhas acabo viajando virtualmente. Descubro uma infinidade de lugares e coisas belas.
Obrigada pela visita e parabéns pelo blog. Está um primor. Beijocas de Elisabeth
Dâmaris , ia esquecendo do perfume....he he he. Gosto cada vez mais de perfumes com rosas. Apreciava muito violetas, cravos e lírios.Agora estou fascinada pelas rosas.In natura, nos roseirais.
ResponderExcluirO que me encanta nestas flores é a variedade aromática. Rosas cheiram a rosas, contudo existe um diferencial incrível entre as diveras espécies.
Algumas rosas cheiram cravo/canela, outras almíscar e até aroma de pinho.
Muitas variedades das rosas inglesas, que são produtos híbridos relativamente recentes - em torno de 40 anos - rescendem à cítricos e mel.Quer mais gostoso?
É muito interessante.
A rosa Penhaligon me surpreendeu. Esperava uma fragrância mais desmaiada, discreta e è intensa, voluptuosa, de dar água na boca.
Cheira rosas.Rosas inglesas.Beijocas.
PS: Brevemente estarei avaliando as rosas francesas de Parfums de Rosine
Beth,que maravilha deve ser esse perfume,amo o cheiro de rosas que tem o perfume Tea rose(the workshop) e fiquei bastante curiosa quanto a esse também.Parabéns pela resenha,bjos!
ResponderExcluirOi Maillen.É encantador. Gosto cada vez mais de perfumes com rosas.Este é um dos melhores. Beijocas de Elisabeth
ResponderExcluirQue coisa linda e cheirosa este seu blog. Que pena a net ainda não permitir a gente sentir os perfumes enquanto lê. Adorei estar aqui e vou voltar, com certeza, e vou mostrar pra outros que também merecem vê-lo. Abraços!
ResponderExcluirObrigada flor! Eu também espero o dia em que aromas sairão das páginas da net. Nada é impossível...E logo neste perfume que é uma delícia. Se fosse possível eu ficaria mais tempo ainda no blog. He he he. Volte sempre. Beijocas de Elisabeth
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