Primitivos da nossa espécie usavam couro para se proteger das intempéries, aquecer e reforçar a defesa do corpo contra ferimentos.
Ao longo dos anos se renderam ao encanto das cores e padrões da pelagem de outros animais, elaborando técnicas de preservação, que segundo registros históricos são dominadas há pelo menos 3000 anos; pelos hebreus, babilônios, egípcios e índios norte-americanos.
Curtumes preparam couro crú adequando seu uso à fabricação de acessórios, vestuário e mobiliiário através da desidratação e adição de conservantes naturais (taninos) ou minerais (cromo).
O resultado é matéria prima maleável, macia, com aroma característico, levemente adocidado, que encanta tanto quanto o aspecto visual e táctil.
Apesar das implicações morais em relação ao abate de animais, couro e peles alcançaram enorme popularidade dos séculos passados à atualidade se tornando artigo luxuoso e sofisticado.
Perfumistas e consumidores perseguem há tempos, através de inúmeras fórmulas, a composição que simule fielmente esta fragrância agridoce e animalic. .
No início do século XX, a peleteria Weil recebeu uma encomenda singular - perfumes que simbolizassem diferentes tipos de pele.
Marcel Weil responsável criativo da maison, adando a idéia brevemente disponibilizou no mercado uma série de fragrâncias que levaram o nome das diferentes pelagens utilizadas em abrigos e acessórios.
Entre elas se destaca Antílope, lançada em 1928 e reformulada em 1946 e 2006.
Apesar de não apresentar sillage persistente, abre leque olfativo rico e intenso até alcançar drydown macio, aveludado revelando a mais fina pelica.
Agridoces e pungentes se revelam as primeiras notas, talvez pela sinergia entre salvia e camomila, indicando em nuances leves a adição de vetiver, resinoso e medicinal, emanando da base.
Entre a volatização destas ervas e raízes surge o picante de especiarias e aldeídos, notas doces, agudas e lapidadas; canela suave se debruçando sobre o dulçor picante das flores, talvez narcisos, rosas, ylang ylang e neroli.
Tais acordes associados atuam sobre âmbar de aveludada intensidade, ladeado pelas resinas que temperam e provocam a sensação de estarmos envolvidos em pele macia e curtida.
Soberano, adocicado, suave e sedutor, o aroma de couro se fecha lentamente sobre a pele como flores diurnas ao cair da noite.
Após fragrante apogeu, declara intimista discrição e pede reaplicação em 3 ou 4 horas para que possamos sentir novamente seu rastro insinuante.
Talvez esta característica passageira seja perfeitamente compatível com o animal que lhe serviu de inspiração, observado apenas de longe, arisco e rápido, desdenhando as tentativas de aproximação,o belo porte percebido a distância, vagando pelas savanas africanas, silhueta recortada contra o sol que finda no horizonte..
Família Olfativa: Floral aldeídico, 1928, 1946, 2006.
Gênero: Feminino ( compartilhável)
Designer: Marcel Weil
Rastro: Intenso a moderado
Fixação: Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Bergamota, neroli, aldeídos
- Coração - Sálvia, camomila, cravo, jasmin, lírio-de-maio, rosa, violeta, íris
- Base - âmbar, vetiver, madeira de sândalo, musgo de carvalho, almíscar.
VÍDEO: Antílopes - música e imagens africanas
Imagens: frascos de Elisabeth Casagrande, ad vintage do Museu do Perfume, frasco de Fragrantica