Uma caverna sombria se abre no coração de um bosque convidando à exploração.
Você entra, sob o impulso da curiosidade, e aspira o ar adstringente, medicinal, de solo, rochas e minerais.
A medida que avança, pisando em gravetos que estalam sob os pés, o aroma intenso invade as narinas, a princípio parecendo metálico, resinoso, e lentamente se abrindo para a percepção de couro quente, seco e animal mesclado ao odor de plantas aromáticas cujas folhas foram recentemente arrancadas.
E no silêncio palpitante você pensa... não estou só.
Assim escreve o ínicio de Cuir de Lancôme, perfeitamente ferino, pungente e cortante, se derramando sobre a pele no controle absoluto de resinas e madeiras enfumaçadas, completamente diferente da performance na neutralidade do papel.
Estranho e provocante, com certeza esta combinação exótica evoca couro animalic, pulsante e masculino, que subjuga flores evidenciando a face da mistura exótica citada em notas oficiais. Equilíbrio entre o intenso pilriteiro ou espinheiro branco (hawthorn), ardente açafrão e terroso patchuli provavelmente causam esta singular impressão.
Cuir de Lancôme se expressa em notas que evoluem do início agressivo para aroma quente, seco, ligeiramente salgado, temperado com benjoim; substituído gradativamente pela suavidade acetinada e enfumaçada de vestuário, que ainda mantém o calor e odor da pele.
Bouquet discreto se exibe em delicada doçura, tímido, deitado sobre madeiras, a salvo das raízes que percorrem o solo.
No drydown encontra maciez e sensualidade, finalmente domado pelas pétalas florais e cremosidade discreta de baunilha.
Cálido e íntimo, Cuir parece adequado para acompanhar o crepitar de chamas na lareira, em rústicas cabanas perdidas nas noites de inverno, de paisagens inóspitas e distantes.
Apesar de guardar uma sombra selvagem no seu interior, poderia abrilhantar salões elegantes, desde que acolhedores, seletos, preservados pela obscuridade elegante e sofisticada.
Não imagino esta fragrância desfilando ao sabor do sol, nas orlas marítimas, talvez se encontrado num baú de piratas; tampouco ostentado por moças de espírito doce e desmaiado, a não ser que escondam atrás do espartilho a vibração de uma Elizabeth Swann.
Breves momentos lembraram aromas da perfumaria Kenzo na seleção Jungle Le tigre e Jungle L'Elephant, apesar de aqui ocorrer redução na intensidade de baunilhas, e da ausência de algumas especiarias. Talvez a proximidade esteja na característica do acorde cremoso e abaunilhado do drydown, que também percebo em kenzo Flower Oriental..

- Magie - Floral ambré, 1950
- Climat - Floral vert, 1967
- Sikkim - Floral oriental, 1971
- Sagamore - Boisé frais, 1985
- Mille & Une Roses - Rose ambrée, 1999

Gênero: Unissex
Perfumista: Calice Becker e Pauline Zanoni
Rastro: Intenso à moderado
Fixação: Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Tangerina, açafrão, bergmota
- Coração - Patchuli, pilriteiro ou espinheiro branco ( hawthorn), jasmim, ylang-ylang.
- Base - Raiz de íris, bétula, benjoim.
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Imagens: Cave de Webosaurs Blog; foto de Elisabeth Casagrande; banners de vintage de Magazine Fashion e Lancôme, basenotes
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