Début, deliciosa surpresa do começo ao fim.
Quando as notas escapam do frasco, antes de tocar a pele, sentimos o aroma de flores frescas, junto a folhas orvalhadas.

É a sensação de achar um belo canteiro, recém desabrochado, pétalas balançando suavemente na aragem, que traz inebriante mistura de flor e folha.
Rapidamente este momento é substituído por um acorde rico, especiado, onde pressentimos a ardência controlada dos cítricos...
Mesmo assim o bouquet não desvanece.
Quando senti pela primeira vez não, pude fugir a comparação aparentemente óbvia.
Aroma de um baile de debutantes, jovens, frescas e encantadoras.
A bailar com seus vestidos esvoaçantes, entre o reluzir dos cristais, o burburinho dos comentários, fluindo na música.
Árvores balançando ao vento.
Ah! Baile de debutantes, uma tradição que está perdendo sua força mas ainda conserva alguns encantos.
Teima em subsistir talvez porque seja um evento romântico, belo e delicado, a lembrar serenatas, noites perfumadas da primavera.
Alguns acharão piegas... Provavelmente é.
Certamente não o pai orgulhoso, que apresenta uma jovem mulher, conduzida pelos seus braços, numa encantadora valsa.
Naturalmente não a mãe emocionada, que vê passar num relance, tantos anos de alegrias e de aflições - naturais à maternidade, culminados na linda e risonha jovem a sua frente.
E com certeza não a teenager que está entre muitas, rodopiando feliz, perfumada, sonhadora, transbordando a beleza e feminilidade da sua encantadora juventude.
Romantismo...Lâmina afiada ferindo a nossa dura realidade, contradizendo ( alguns diriam zombando) os desvarios sociais.
Concordo. É uma cerimônia dispendiosa, pouco prática, dispensável.

Se assim fosse não prestaríamos atenção ao voo dançarino dos insetos, ao degradée absolutamente fantástico do arco-íris, ao perfume de flores, sequer ao canto das cigarras.
Não haveria arte, música ou brilho.
Nem compreenderíamos a escuridão se não houvesse luz.
Necessitamos da beleza, das românticas tradições, assim como de perfumes belos e puros.
Destes aromas límpidos intensos e primorosos iguais ao encontrado em Début!
Onde reconheço o lírio, entre a delicadeza das outras flores. No qual provavelmente reconheceremos a sedutora ylang ylang. Notas florais inebriantes envolvidas nesta doçura quase melífera, uma assinatura de notas cálidas, levemente apimentadas a flutuar leves e acariciantes.
Alguém sugeriu que poderia ser um perfume imaginado na contemplação da Natureza no florescer da primavera, sob aromáticas árvores de tília, ouvindo o murmúrio de uma fonte de águas cristalinas...
Bela imagem! Début é uma ode as flores, como se fosse poesia a falar da primavera, um quadro pintando o desabrochar.

Poucos conhecem tílias nas nossas terras, mas muitos percebem a beleza que neste perfume está revelada como a juventude e o frescor, num sopro prolongado.
Deliciou-me.
Lindo baile e alegres princesinhas relembrando cenas de Sissi-Princess, delicadamente perfumadas do começo até a última dança.
Début cuja sillage elegante e límpida persiste por longo tempo diluindo seu encanto floral nos braços de um amadeirado doce e terno.
Lamento não termos DelRae ao nosso alcance, mas sugiro a quem tiver oportunidade que conheça Début.
Para aqueles que se encantam com florais é uma tentadora opção.
Família Olfativa: Floral, 2204
Perfumista: Michel Roudnitska
Notas Olfativas: Bergamota, lima, ylang ylang, folhas frescas, lírio selvagem, tílias, ciclamem, vetiver, sândalo , almíscar
Arte Irmã
" Por mais que tente o vento
não consegue adormecer
se naõ tiver nada para ler.
Seja uma folha de tília
de bambu ou buganvília"
Jorge Sousa Braga- Herbário, Lisboa- Assírio e Alvim,2002
VÍDEO: Valsinha de Chico Buarque de Hollanda
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, prá seu grande espanto, convidou-a prá rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.
Imagens: - Alameda do Jardim da Fundação Art & Parfum iniciado por Edmond Roudnitska - Riviera- France / Fotografia de Michel Roudnitska; Sonho de valsa,1999 de www.marciomelo.com; Cenas e publicidade do filme Sissi- Romi Scheneider.
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